quinta-feira, agosto 31

A propósito

disse Robin Fior, em 1999

"Se tal como o antigo Presidente da Alemanha Federal, Theodor Heuss, disse, "a qualidade" pode ser caracterizada como "a sinceridade", em países com uma censura institucionalizada, como a que existiu no Portugal de há duas décadas atrás, a sinceridade do design gráfico (e não menos da literatura ou do cinema) tem de ser transmitida obliquamente ou elipticamente; assim no tipografismo (tal como na escrita) a necessidade de convidar o leitor — a ler nas entrelinhas foi uma constante. Com o fim da censura e a respectiva desmontagem do estado-polícia que a sustentou, os designers, tal como os escritores, tiveram de adaptar o seu discurso a uma sociedade aberta. E isto levou o seu tempo.
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No entanto, a libertação da ditadura deixou um vazio que viria a ser preenchido pela busca duma identidade nacional autêntica — redescobrindo ou reinventando a história de Portugal, desembaraçando a teia das diferenças étnicas e culturais, que tinham estado escondidas atrás de um verniz espesso de ideologia nacionalista.
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Temos, no entanto que reconhecer, que a reflexão sobre a identidade nacional tem sido interpretada por vezes literalmente, pelo uso de capas com brilho para reflectir a vaidade do cliente — ou a cara do designer.
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Volvidos apenas pouco mais de trinta curtos anos desde a edição da Bíblia de Guttenberg, era impresso o primeiro incunábulo em Português, enquanto mediaram mais de treze longos anos no último quarto deste século, entre o lançamento do primeiro PC e a saída do primeiro programa de tratamento de texto em Português (europeu). Há vinte cinco anos, o director de uma agência de publicidade poderia informar que não havia mercado para tal, no sentido moderno (em contrapartida houve e ainda há, felizmente, bastantes mercados no país com verdadeira fruta e legumes, não normalizada, porém belíssima de se ver e ainda melhor de se saborear)."