as distâncias, o rural e o urbano
© Ana Coutinho, Andreia Silva e Melissa Capela
workshop de Design de Tipos. Pinhal da ESAD, 2005.
Durante os anos em que estudei na ESAD nas Caldas da Rainha, a cerca de uma hora de Lisboa, quase todo o corpo docente era da capital. Falava-se de Lisboa, visitava-se Lisboa, sempre que queríamos ver uma exposição lá íamos nós até à cidade. Caldas era sinónimo de o campo, o rural , onde se respirava ar puro e se descansava dos ritmos atribulados da grande cidade. A escola rodeada por um belo pinhal, concentrava todas essas características. Meio pequeno, familiar, podiamos fazer almoços/piqueniques no meio dos pinheiros, ou instalações, performances, concertos...
Entre os rituais para o novo ano lectivo, existia um questionário adoptado por alguns professores para "conhecer" os novos alunos. Entre outras coisas era perguntada a nossa origem/proveniencia, preferências musicais, que museus frequentavamos, que livros líamos, que designers eram os nossos eleitos, que programas víamos na televisão... Os sinceros lá confessavam, em tom quase vergonhoso, que já há algum tempo não iam ao teatro, que o último livro que leram era de autor "que já nem se lembravam do nome"; outros, tentavam impressionar apostando aquelas respostas que ficam sempre bem neste tipo de questionário, como o exemplo – "o meu filme preferido é o La Jetée do Chris Marker" ou "o meu texto preferido A era do efémero do Lipovestky", etc... Claro que os mais astutos adaptavam as respostas de acordo com o prof. que queriam impressionar. No caso de ser um prof de Design citava-se como filme essencial Blade Runner de Ridley Scott, para um prof de Cultura Visual citava-se Roland Barthes...
Esta análise sempre foi uma fórmula fácil e rápida: que tipo de alunos eramos, se pertenciamos aos urbanos ou aos rurais. Sempre foi também uma forma preguiçosa de agrupar pessoas, se estas correspondiam a uma ideia de cultura catalogada e de respostas imediatas. Neste sector eu era a aluna do Porto, apesar de na realidade até nem ser do Porto, a verdade é que para os mais curiosos não revelava a minha ruralidade, não queria ser uma menina da aldeia.
Isto tudo porque, quando pensamos em design, palavra urbana por natureza, pensamos idealmente em algo associado à cultura, que cresce nas grandes cidades. Algumas vezes ouvi conselhos em que nos diziam para tentar safar-nos nos meios pequenos, que era muito válido aqueles alunos que iam trabalhar para as terrinhas e tentar desenvolver lá uma linha gráfica. A verdade é que quem dava estes conselhos na realidade sabia, por experiência própria, que trabalhar nos meios urbanos aumenta a exigência, é dificil, mas permite o contacto com outros trabalhos, outras oportunidades que de outro modo nunca teria.
Se agora penso em tudo isto é porque dificilmente acreditava que voltaria a viver, passados seis anos, na cidade de fins de semana e hospedeira da minha adolescência. Vim, naturalmente atrás daquilo que todos procuramos: independência, trabalho... uma vida melhor.
1 Comments:
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Um Abraço
ED
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