terça-feira, julho 3

A cientificidade

A minha irmã tem um professor, médico, que costuma dizer aos alunos, sempre que eles arriscam teorizar alguma suspeita: Há evidência empírica que sustente essa afirmação? Há literatura sobre isso? Está escrito? Foi estudado? A amostra desse estudo é significativa?. Em casa ela repete o papel do professor, ou seja, sempre que eu chego a alguma conclusão precipitada, ela repete: tu inventas muito, estás a distorcer factos, tendes sempre para o exagero, não és rigorosa. Diz que não baseio as minhas informações em material científico.

Em design passa-se um bocadinho isto. Ainda outro dia ouvi um cliente perguntar: mas, há de facto, informação estudada que permita provar o que me acaba de dizer? ou trata-se da sua opinião pessoal?
Ora, uma das inúmeras razões porque a área científica nunca me entusiasmou, é precisamente a necessidade de prova constante, de procura da veracidade. Em design há coisas mais ou menos consensuais e mais ou menos estudadas, por exemplo, um cartaz tem maior impacto ao alto. Há, no entanto, uma regra ainda mais consensual: o design não é uma disciplina científica. Muitas das opções dos designers, muitos estudos e muitas conclusões, partem de questões tão subjectivas como o gosto pessoal, a intuição ou o bom senso.
Um amigo meu contou recentemente que, numa reunião com um arquitecto, quando lhe apresentava a paginação de um livro com uma grelha de composição 2:3, ele ficou espantado por tamanho rigor, a grelha foi a prova da cientificidade do seu trabalho. Perante estas provas de sabedoria, o trabalho foi facilmente aprovado, precisamente porque a justificação das escolhas passaria pelas regras que eram científicas.

Numa área dividida entre o rigor e a liberdade artística, provar que somos rigorosos é meio caminho para sermos levados a sério. Continuamos divididos entre o prestar provas de seriedade ao mesmo tempo que necessitamos de assumir as fragilidades da intuição e do risco.