segunda-feira, junho 25

RE:

quinta-feira, junho 14

as distâncias, o rural e o urbano


© Ana Coutinho, Andreia Silva e Melissa Capela
workshop de Design de Tipos. Pinhal da ESAD, 2005.


Durante os anos em que estudei na ESAD nas Caldas da Rainha, a cerca de uma hora de Lisboa, quase todo o corpo docente era da capital. Falava-se de Lisboa, visitava-se Lisboa, sempre que queríamos ver uma exposição lá íamos nós até à cidade. Caldas era sinónimo de o campo, o rural , onde se respirava ar puro e se descansava dos ritmos atribulados da grande cidade. A escola rodeada por um belo pinhal, concentrava todas essas características. Meio pequeno, familiar, podiamos fazer almoços/piqueniques no meio dos pinheiros, ou instalações, performances, concertos...

Entre os rituais para o novo ano lectivo, existia um questionário adoptado por alguns professores para "conhecer" os novos alunos. Entre outras coisas era perguntada a nossa origem/proveniencia, preferências musicais, que museus frequentavamos, que livros líamos, que designers eram os nossos eleitos, que programas víamos na televisão... Os sinceros lá confessavam, em tom quase vergonhoso, que já há algum tempo não iam ao teatro, que o último livro que leram era de autor "que já nem se lembravam do nome"; outros, tentavam impressionar apostando aquelas respostas que ficam sempre bem neste tipo de questionário, como o exemplo – "o meu filme preferido é o La Jetée do Chris Marker" ou "o meu texto preferido A era do efémero do Lipovestky", etc... Claro que os mais astutos adaptavam as respostas de acordo com o prof. que queriam impressionar. No caso de ser um prof de Design citava-se como filme essencial Blade Runner de Ridley Scott, para um prof de Cultura Visual citava-se Roland Barthes...
Esta análise sempre foi uma fórmula fácil e rápida: que tipo de alunos eramos, se pertenciamos aos urbanos ou aos rurais. Sempre foi também uma forma preguiçosa de agrupar pessoas, se estas correspondiam a uma ideia de cultura catalogada e de respostas imediatas. Neste sector eu era a aluna do Porto, apesar de na realidade até nem ser do Porto, a verdade é que para os mais curiosos não revelava a minha ruralidade, não queria ser uma menina da aldeia.

Isto tudo porque, quando pensamos em design, palavra urbana por natureza, pensamos idealmente em algo associado à cultura, que cresce nas grandes cidades. Algumas vezes ouvi conselhos em que nos diziam para tentar safar-nos nos meios pequenos, que era muito válido aqueles alunos que iam trabalhar para as terrinhas e tentar desenvolver lá uma linha gráfica. A verdade é que quem dava estes conselhos na realidade sabia, por experiência própria, que trabalhar nos meios urbanos aumenta a exigência, é dificil, mas permite o contacto com outros trabalhos, outras oportunidades que de outro modo nunca teria.
Se agora penso em tudo isto é porque dificilmente acreditava que voltaria a viver, passados seis anos, na cidade de fins de semana e hospedeira da minha adolescência. Vim, naturalmente atrás daquilo que todos procuramos: independência, trabalho... uma vida melhor.

terça-feira, junho 12

A Regionalização

Vivemos num país pequeno. Ainda mais pequeno quando pensamos em design. Fará algum sentido regionalizar o design em Portugal?

Quem vive em Lisboa desconhece o Porto e vice-versa. Alguns depoimentos de lisboetas já disseram: o Porto é um lugar pequeno onde pouca coisa acontece. As ruas são sujas, as pessoas dizem palavrões, fala-se mal... Existirão certamente galhardetes para a troca do lado "contrário"...
Quando, em Portugal, se fez uma exposição sobre design português, por altura da Experimenta Design 2005, maioritariamente, os exemplos apresentados eram da capital. Muito se falou da ausência escandalosa de muitos designers "desconhecidos" mas que regularmente figuram na imprensa nacional.

Como o design em Portugal vive ainda de relações que lhe são externas, os projectos de comunicação assumem uma existência que lhe é exterior, que é a da esfera social a que os seus autores estão sujeitos, e que fazem deles, reféns de um meio local. O meio que se vive diariamente, com que se cruzam na rua, o que se comenta em cafés, o mesmo meio que por vezes serve o impedimento da projecção nacional, apesar da divulgação semanal na imprensa em que muitos destes trabalhos estão presentes.

Tendo estudado numa pequena cidade, como é a das Caldas da Rainha, não defendo aqui regionalismos saloios, mas sempre recebi aquela que era a "grande cultura lisboeta" feita de amizades e conhecimentos de circunstância em que a proveniência, o local onde tivemos a felicidade/infelicidade de nascer, teria um peso simbólico.
Com estas ideias não se pretende valorizar/validar o mais pequeno sobre o mais conhecido, nem o detentor de menos meios sobre o mais mediático, mas antes, referir que ainda há vários desconhecidos dos nossos vizinhos com trabalho consistente e continuado, publicado. Perante isto, o nosso lugar, o Local mantem-se mais detentor do nosso conhecimento, do que o seria o possível Global do design em Portugal.